2º Manifesto pelo Rio Doce leva mais de mil pessoas para as ruas de Colatina

Mais de mil pessoas foram às ruas de Colatina na amanhã deste sábado (5/11) para participar do 2º Manifesto pelo Rio Doce e a Serviço da Vida. A ação foi organizada pela Diocese de Colatina em parceria com entidades da sociedade civil para lembrar o primeiro aniversário do desastre ambiental ocorrido no Rio Doce, após o rompimento da barragem com rejeitos de minério, em Mariana (MG), pertencente à empresa Samarco.

A concentração ocorreu no bairro São Silvano, onde foi realizado um momento de oração, lembrando o nome de todas as 19 vítimas fatais da tragédia. Logo após, o grupo iniciou a caminhada seguindo pela Ponte Florentino Avidos, que fica sobre o Rio Doce. Ao ocupar toda a extensão da ponte, os manifestantes fizeram um momento de silêncio em sinal de luto e indignação.

Ao longo do caminho, foram lembrados todos os problemas socioambientais ocasionados pelo desastre e que continuam a afetar a vida de milhares de pessoas. Várias pessoas foram vestidas de preto e gritavam palavras de ordem como “Nós não vamos esquecer”. Um longo tecido marrom foi estendido e levado por vários manifestantes para representar o Rio Doce com rejeitos de minério e peixes mortos.

Ao chegar ao cais do Rio Doce, próximo à Praça Sol Poente, o bispo diocesano, dom Joaquim Wladimir Lopes Dias, leu o texto do 2º manifesto e reforçou a disposição da Diocese de Colatina em continuar lutando para que medidas eficazes sejam tomadas por parte do poder público e dos responsáveis.

2º MANIFESTO DA DIOCESE DE COLATINA

UNIDOS PELO RIO DOCE E A SERVIÇO DA VIDA

Colatina, 5 de novembro de 2016

Um ano após o desastre socioambiental ocorrido no Rio Doce,

o que mudou?

Fonte: Diocese de Colatina

Em favor da dignidade da pessoa humana e do cuidado com a casa comum, a Diocese de Colatina vem a público, pela segunda vez, manifestar sua dor pelo desastre ocorrido no Rio Doce após o rompimento da barragem de Fundão com rejeitos de minério, em Mariana (MG), pertencente à empresa Samarco (Vale e BHP). Há exato um ano, em 5 de novembro de 2015, esse desastre ambiental, sem precedentes na história do Brasil, ocasionou a perplexidade e a indignação da sociedade mundial. A vida animal e vegetal foi devastada pela enxurrada de lama tóxica. O distrito de Bento Rodrigues foi simplesmente varrido do mapa. Dezenove pessoas morreram nesse desastre.

Um ano se passou. Mas, nós não esquecemos! Nós não podemos esquecer! Muitas pessoas convivem, até hoje, com as pesadas consequências do desastre. Suas vidas nunca mais serão as mesmas. Algumas perderam entes queridos. Outras perderam o fruto de seu sustento: o rio, seus peixes, sua flora, sua água. Muitos agricultores, indígenas, ribeirinhos e pescadores enfrentam a mais dura realidade: falta de comida, de água potável, de trabalho. Por isso, não podemos esquecer!

Para além das consequências socioambientais, o desastre provocado pela Samarco vem destruindo também princípios e valores culturais e morais a serviço da vida nas comunidades atingidas.

A Campanha da Fraternidade 2016, dedicada à casa comum, afirma que “garantir os direitos essenciais para a vida humana e cuidar bem do planeta são partes fundamentais da justiça exigida por Deus”. Não devemos perder a capacidade de lutar e se indignar com aquilo que não condiz com a prática cristã. E Jesus nos encoraja nessa missão ao dizer: “felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados” (Mt 5,6).

Em sua encíclica Laudato Si’, o Papa Francisco lamenta que “a nossa casa comum parece transformar-se cada vez mais num imenso depósito de lixo” (LS 21). O Santo Padre enfatiza ainda: “o fato de insistir na afirmação de que o ser humano é imagem de Deus não deveria fazer-nos esquecer que cada criatura tem uma função e nenhuma é supérflua. Todo o universo material é uma linguagem do amor de Deus, do seu carinho sem medida por nós. O solo, a água, as montanhas: tudo é carícia de Deus” (LS 84).

Diante de tais constatações, exigimos da Samarco e do poder público:

1 – A responsabilização criminal pelas 19 mortes ocasionadas e pelos danos socioambientais provocados;

2 – Medidas eficazes e imediatas pelo dano ocorrido aos municípios, especialmente em relação à melhoria da qualidade da água tratada;

3 – Compromisso efetivo dos prefeitos e vereadores eleitos no sentido de cobrar da Samarco e do poder público a solução dos problemas causados.

Às comunidades eclesiais da Diocese de Colatina, convocamos para que, no próximo dia 5 de novembro de 2016, às 15 horas (data e horário do rompimento da barragem), sejam tocados os sinos das igrejas em sinal de protesto pelo descaso da Samarco e pela morosidade do poder público, bem como em solidariedade com todas as vítimas da tragédia.

Ao longo desta década, atualizaremos os dados e discutiremos o que, de fato, mudou após a tragédia no Rio Doce, bem como se os responsáveis têm cumprido o seu papel social diante do mal causado.

Fraternalmente,

Dom Joaquim Wladimir Lopes Dias

Bispo da Diocese de Colatina

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